O texto abaixo é um comentário sobre o manifesto "Estética da Fome", de Glauber Rocha, produzido durante a disciplina de Introdução à Cultura e Literatura Brasileira no primeiro semestre de 2017, ministrada pelo Prof. Dr. Alfredo Cesar Melo.
Sob forte recomendação da monitora da disciplina Luciana Marques de publicar em algum lugar, decidi que este blog era o endereço certo para esse texto. ---
RESENHA: "ESTÉTICA DA FOME"
A América é o único continente cuja base da pirâmide de
exploração está assentada a sete palmos da terra.
Esse é o entendimento primeiro desta terra: tudo o que está
erigido sobre ela, está erigido sobre sangue.
E como o alicerce é de sangue, não se pode esperar dignidade
sobre ele.
Tal é o entendimento de Glauber Rocha com seu manifesto “Estética
da Fome”. Ele critica e ataca as formas de produzir e enxergar a América,
respectivamente, por americanos e europeus porque essa relação ainda está
permeada por traços de colonização e isso impede observar a alma do continente,
seu povo, seus problemas e suas paixões.
Glauber tem a felicidade de ser quem nomeia o próprio movimento
artístico; não é póstuma a afirmação do Cinema Novo. Isso revela também que ele
não quer que o olhar europeu o classifique – como bizarro ou grotesco.
Ao afirmar o “Novo” ele inaugura esse sangue não visto: a
violência, a fome, a pobreza, o gênero, o amor, todos muito alheios às metáforas
europeias.
Também é interessante que o “Novo” foi indigesto para o
público retratado, acostumado a negar que mal vive e vive mal.
Sobre esse, viciado no olhar europeu, olha para a própria realidade
como um devir: vai melhorar. E esse sonho emoldurado sofre quando o cinema é
espelho do presente, do passado e faz desconfiar do futuro ser o mesmo.
O autor desagrada crítica e público ao deixar as veias
abertas e defenda-las. Exibe o sangue sobre o que a arte, cultura e política
estão levantadas.
A indigestão acontece quando quem consome essa relação
colonial se depara com a fome e o sangue abaixo de seus pés.
O Cinema Novo é um respiro de verdade, de realidade, quando
a opção é sufocar em farsa.