segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

LA LA LAND E MOONLIGHT

Essa é uma crítica muito boa escrita pelo meu amigo Gabriel de Barcelos sobre os filmes mais cotados para ganhar o Oscar desse ano. ---

La la land se sustenta apenas nesta elegia auto-referente, que é moda nos dias de hoje. O casal tem zero de carisma, não sabe dançar nem cantar, nem desperta qualquer interesse em sua trajetória. Se na história dos musicais (inspiração para o filme) a performance de corpo e voz na maioria das vezes garantia a qualidade dos números, aqui é necessário acrescentar pirotecnias e rococós vazios, como "truques" para impressionar quem assiste.

Nos diálogos e na linguagem está a busca nostálgica de um "tempo perdido", seja do jazz ou do cinema clássico de Hollywood. Característica reforçada pela mistura de tempos históricos nos figurinos, cenários, carros e outros elementos, junto à atualidade, Algo de encomenda para a Academia se auto-celebrar ou talvez gerar um vídeo viralizador mostrando referências em antigos filmes. Quem sabe também uma lista descolada no Buzzfeed? O tema é o velho e bom sonho americano, do imaginário meritocrata do jovem buscando realizar seus desejos na cidade das possibilidades. Já o ritmo do filme (e sua péssima montagem) com o perdão do trocadilho musical, é descompassado, perdido e entediante. 

Assim como ocorre com os mortos numa cena do musical O Violinista no Telhado, acho que todos os grandes astros do gênero, como Fred Astaire, Gene Kelly e Ginger Rogers se ergueram revoltados de suas tumbas. O filme também tem sérios problemas em relação às questões raciais, atualizando elementos das filmografias musicais do século 20. Mas sobre isso deixo o texto de Jocimar Dias Jr. 

Já Moonlight é o extremo oposto. É sensível, paciente e ousado em sua linguagem. A intensidade dos corpos, das cores, dos rostos, das histórias enchem-se de significação e verdade. Um personagem que é descoberto por nós, ao mesmo tempo em que se transforma durante o filme. 

A história de um homem negro e gay poderia sugerir uma jornada de superação, até chegar a um lugar externo, redentor e pré-determinado. Não é nada disso que vemos. O protagonista Chiron, em três diferentes momentos da sua vida, pouco fala. Mas diz palavras certeiras. As suas perguntas abrem novas portas, descobertas e feridas. A imagem dele, calada, suas ações e as pessoas ao seu redor fazem o espectador descortinar os elementos de sua transformação. A incompletude do filme, alvo de algumas críticas, é exatamente a sua potência, representada por "instantâneos" de uma vida, cercados de grandes elipses. Cabe a nós unir estes pontos. 

Se em La La Land temos o exagero, aqui a simplicidade produz a grandeza de uma viagem íntima, mas ao mesmo tempo submetida à experiência do personagem com o mundo. 

Já o azul predominante e a iluminação lunar tornam-se quase personagens de Moonlight, ligando-se diretamente à narrativa, diferente da estética-ornamento do La La Land.

Mas adivinha quem possivelmente deve ganhar a principal estatueta? É por estas e outras que Hollywood vai tão mal.

(com a colaboração nas conversas com Maisa Calazans Maurício Gabriel dos Santos e Van Peixoto)

EDIT- Gostaria de fazer um adendo. O fato do casal de La la land não saber dançar e cantar não necessariamente poderia ser um problema. Mamma Mia, por exemplo, que é um musical recente que eu gosto muito (e que resgata um pouco da "ingenuidade" de musicais antigos) tem vários atores que não são exímios cantores.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

GILBERTO GIL: TIME WILL TELL

Jah jamais permitirá que as mãos do terror
Venham sufocar o amor

Somente o tempo, o tempo só
Dirá se irei luz ou permanecerei pó
Se encontrarei Deus ou permanecerei só
Se ainda hei de abraçar minha vó

Somente o tempo, o tempo só
Time alone, oh! Time will tell

You think you're in heaven, but you're living in hell