segunda-feira, 19 de maio de 2014

"SEMANA DA MAIORIA": NÃO É SÓ UM NOME

No ano passado já havia criticado a proposta de "Semana da Maioria" da então chapa "Amanhã vai ser maior", hoje gestão do DCE. Prestes a ser realizada, cabe dizer que discutir direitos humanos e combate às opressões é uma iniciativa sempre bem-vinda, mas o nome da semana é infeliz e prejudica um debate ainda muito delicado no Brasil.

1 - "Minoria" nesse debate não é uma categoria estatística, mas sociológica. Diz respeito à negação de direitos, à exclusão e injustiça social.

2 - Estatisticamente, a população negra e de mulheres no Brasil é maioria segundo o último Censo do IBGE. Disso decorrem três problemas graves:

a) a falsa impressão que temos condições de promover nossa própria igualdade;
b) que se isso não ocorre é também responsabilidade nossa e;
c) que a quantidade de pessoas oprimidas é consequente com um programa ou projeto político de emancipação e não o debate, a organização e ação de lutas sociais.

Tanto um quanto outro esconde os limites do Estado, a dificuldade de organização das categorias e a discussão aprofundada e qualificada das ideologias que sustentam a opressão.

3 - Prejudica também a interseccionalidade, aspecto tão frágil a cada um desses e outros movimentos. Temas como o feminismo negro, transfobia e aspectos ligados à classe saem obviamente prejudicados. Ainda me pergunto como eu, negro e gay (segundo a definição de vocês, maioria e minoria ao mesmo tempo), seria contabilizado... Soma, subtrai, divide ou multiplica?

Sem contar que não houve convite ao Coletivo Babado nem ao Núcleo de Consciência Negra da Unicamp ou mesmo uma chamada pública para compor o ciclo de atividades.

Não sei ao certo o que levou a esse nome, mas qualquer justificativa é insatisfatória frente ao equívoco. Parece que não é nada ou que é patrulha ideológica, mas trata-se de um elemento central para a luta pelos direitos humanos e contra as opressões que, infelizmente, reitero, ainda é delicado no Brasil para se fazer tal arranjo.